É muito comum pacientes com câncer apresentarem tromboembolismo venoso (TEV), que é a situação aonde ocorre a formação de um coágulo, impedindo o fluxo de sangue de uma veia profunda, geralmente das pernas (Trombose Venosa profunda-TVP). Quando esse coágulo se desprende ele pode se deslocar para o pulmão, causando o que chamamos de embolia pulmonar (EP), situação muitas vezes fatal.

Inicialmente o tratamento era realizado com os chamados antagonistas de vitamina K (AVK), entretanto o uso destes medicamentos está associado com o alto risco de recorrência de TEV, alto risco de hemorragia além de gerar a necessidade de colheita de exames mensais para manutenção da dose correta de medicação.

As Diretrizes de 2016 do “American College of Chest Physicians” sugerem que o tratamento inicial de TVP em pacientes com CANCER (TAC) seja preferencialmente realizado com as heparinas de baixo peso molecular (HBPM) injetáveis, em segundo plano com os AVKs, e como terceira opção com os novos anticoagulantes orais (NOAC).

Embora HBPM seja efetiva em pacientes com TAC, a aderência ao tratamento é baixa, e seu uso acaba sendo inconveniente devido primeiramente ao modo de administração da droga, que é realizado através de injeções subcutâneas, o que acaba sendo um incômodo a mais, principalmente para pacientes com câncer, que já recebem frequentemente quimio ou imunoterapia via intravenosa. Finalmente porque é muito cara..

Pensando em uma alternativa que possa ser utilizada por via oral, gerando menor incômodo ao paciente e com menor custo, realizamos o maior estudo do uso de Rivaroxaban especificamente para pacientes com câncer. Avaliamos a eficácia e a segurança de Rivaroxaban em 400 pacientes. Avaliamos a recorrência de sintomas de TEV ou morte relacionada à TEV, além da ocorrência de hemorragias.

Em ambiente hospitalar pacientes são tratados com HBPM uma vez que o sistema de saúde cobre todo o custo, mas quando recebem alta eles tem que pagar pelo medicamento, e então a HBPM é substituída por rivaroxaban. Neste estudo a maioria dos pacientes (75,5%) recebeu a terapia parenteral com enoxaparina (HBPM) seguida de rivaroxaban de uso oral. Os outros 24% dos pacientes foram tratados apenas com rivaroxaban.

Durante os 6 meses do período de anticoagulação oral apenas 3,25% dos pacientes tiveram recorrência de TEV, e não houve diferença significativa entre pacientes que apenas fizeram uso de rivaroxaban e pacientes que fizeram uso de enoxaparina + rivaroxaban. Diferença essa que também não foi observada entre os tratamentos em relação às hemorragias.

Novos estudos estão sendo conduzidos com o mesmo objetivo que o nosso, entretanto com este primeiro estudo demonstramos que o resultado do tratamento com Rivaroxaban, um medicamento de uso oral e que não requer exames complementares mensais, é tão eficaz e seguro como os obtidos com enoxaparina, com a vantagem de causar um menor sofrimento ao paciente por ser administrado via oral e por custar no Brasil até 6 vezes menos que a enoxaparina.

Este trabalho foi publicado na revista Clinical and Applied Thrombosis and Hemostasia. 2017 Oct;23(7):883-887.